A1 varanda voltada para o Tejo

Era uma vez um menino que olhava vagamente o horizonte, perdido no tempo, de cabeça despida de pensamentos, triste e desapontado com a vida. A certa altura, notou que as nuvens à sua frente destapavam o sol e formavam ao lado uma pequena frase:
Coopera, partilhando honestamente.
Esse foi o mote que o fez despertar e ver claramente como a vida pode ser bela. Para isso, bastava querer e, cooperando com o seu próximo de forma honesta, podia realizar tudo e tornar-se a si e ao seu próximo muito mais felizes.
Foi inspirado na história desse menino que o passeio “A 1 varanda voltada para o Tejo”, entre outros projectos, nasceu. Teria de ser um passeio abrangente, onde participassem amigos apaixonados pelo BTT, ter todos os condimentos técnicos para satisfazer as potencialidades dos interessados e uma vista panorâmica sobre o fascinante Estuário do Tejo, para permear o grande esforço que seria por eles despendido.
O apoio imprescindível ao sucesso do passeio surgiu desde a primeira hora. Os amigos Hugo Mendonça, Vitor e João Martins colaboraram no reconhecimento do percurso. O Clube Bestteam, através do companheiro Renato, mobilizou o seu pessoal a acompanharem o pessoal do Clube MoucaBTT na primeira etapa do passeio. A Mãe, o Pai e a restante família Lopes garantiram o almoço e o convívio pós passeio. O Pina tratou de divulgar o evento e de organizar a deslocação dos companheiros moukistas do Cacém até Santa Iria. E por fim, a União de Freguesias de Santa Iria, S. João da Talha e Bobadela e a Câmara Municipal de Loures autorizaram a utilização das instalações do Parque Urbano de Santa Iria de Azóia para parqueamento de viaturas, banhos do pessoal e lavagem de bicicletas.
Após um passeio preliminar pelo interior do Parque Urbano pelos 13 elementos Moukistas, juntámo-nos aos 19 companheiros do Bestteam, e depois dos devidos cumprimentos e apresentações, partimos pelas 08H20 em direção a norte.
 Ladeamos o cemitério de Santa Iria e ultrapassamos a primeira subida do dia. Embora ligeira, serviu para aquecer os músculos e aumentar o ritmo cardíaco dos participantes. O ambiente era descontraído e até já havia troca de conversas entre elementos de ambos os clubes.
Na fronteira entre o Bairro do Monjões e da Salvação iniciou-se a primeira descida. Depois de desbravado o caminho, enchemos os pulmões de ar e lá descemos um a um, com maior ou menor dificuldade, até à Granja. No alcatrão virámos à direita para Alpriate e ali chegados, lá estava o amigo Teles, à espera para se juntar ao pelotão que a partir dali passou a contar com 34 elementos.
Cruzámos a Variante de Vialonga em Direção à Mata do Paraíso e começamos a preparar-nos para 5 km sempre a subir, com um acumulado de 300 m, que nos levaria ao marco geodésico do monte cerves em Santa Eulália. Na entrada da mata, encontramos um companheiro de outro grupo a necessitar de apoio médico. Dois bombeiros do nosso pelotão voluntariaram-se de imediato para o socorrer e apenas o libertaram quando uma ambulância chegou ao local para o transportar ao hospital. – Nos trilhos somos, um por todos e todos por um. Porque ontem ele, amanhã podemos ser nós a necessitar de ajuda.
O atraso causado e o percurso longo e difícil que ainda estava pela frente, principalmente para alguns bttistas ainda pouco experientes dos Bestteam, levou a que cada equipa tomasse um rumo diferente a partir dali. – Muito obrigada pela colaboração Bestteam. Valeu. Estaremos com certeza novamente juntos no futuro, num qualquer trilho por aí.
Depois das despedidas, embrenhámo-nos no trilho das pinhas, através de uma pequena floresta muito densa, atravessámos a praça de Santa Eulália, escalámos por alcatrão mais de 500m de estrada até que, finalmente, conquistámos o pico do Monte Cerves.
Apreciada a vista panorâmica emoldurada pelas Serras de Sintra, da Arrábida, de Altora e de Montejunto, bem como, pelo nosso querido e fiel companheiro o Estuário do Tejo, repostas as energias e tiradas as fotos para memória futura, montámo-nos de novo nas princesas e partimos céleres ao longo do topo da Serra de Vialonga em direção ao Cabeço da Rosa em Alverca. Depois, nova subida complicada pela frente a requerer muita perícia, técnica e disponibilidade física para a ultrapassar sem desmontar. O que poucos lograram conseguir.
Avizinhava-se a grande surpresa do dia para os bravos da MoucaBTT. A descida vertiginosa e muito técnica que conduzia à localidade de Calhandriz. Todos tiveram de mostrar ali o que valiam a descer. Empenharam todas as reservas de adrenalina que possuíam e fizeram-se à acidentada descida como verdadeiras cabras do monte. No final, todos falavam do quase orgasmo atingido naquela descida. Constitui sem dúvida um hino ao BTT.
Tranquilamente atravessámos a Calhandriz e mal nos tínhamos recomposto da última descida, estávamos já com a língua de fora a trepar mais 250 m de acumulado até ao topo da Serra de Alhandra, imediações da pedreira da cimenteira. Primeiro por alcatrão, depois por terra batida e, em menos de nada, estávamos no topo, onde encontrámos de novo uma paisagem panorâmica idêntica à do Monte Cerves.
Não nos demoramos desta vez e passámos de imediato à louca e rápida descida que nos iria conduzir até ao miradouro do monumento das linhas de torres. - Monumento erguido em 1883, no local onde existiu o Reduto n.º 3, designado por Reduto da Boa Vista. Dali partia a linha de fortificações militares que faziam parte do complexo de fortificações das Linhas de Torres, construídas com grande sigilo entre 1810 e 1812 pelas tropas luso-britânicas contra os exércitos napoleónicos. Além da visita ao monumento, foi possível também apreciar a boa situação sobranceira ao Tejo, que permitia uma vista única e sublime sobre o estuário.
Ingerimos as últimas barritas, beberam-se os últimos goles de água e saímos prontos para o que restava do passeio, de Alhandra em direção a Alverca. Engrenámos depois pelos caminhos de Fátima que coincidem na Póvoa com o novo passeio ribeirinho inaugurado recentemente. Além da pareceria muito próxima com o Tejo, podíamos apreciar ao longe a imponência da Arrábida que imergia por cima do florido da vegetação do Mochão da Póvoa.
Quando já todos julgavam que o final estava próximo e requeria apenas um último fôlego para subir da Granja até ao Parque Urbano. Mais uma surpresa os esperava. A partir da estrada dos caniços colámo-nos à Autoestrada A1 e seguimos durante dois quilómetros em constante sobe e desce. O desgaste acumulado e as poucas reservas de energia fizeram-se sentir e alguns já quase se arrastavam a eles e às princesas mato fora. O Moukista Pires que o diga.
Apesar do cansaço que, em geral, todos sentiam, exceção feita aos profissionais do pelotão que (quase) todos os dias vão ao treino. No final todos rejubilavam com o belíssimo passeio que tinham acabado de fazer. A dureza, as paisagens, a simpática companhia dos bttistas dos Bestteam e as descidas e subidas exigentes e desafiantes que compuseram o percurso, tornaram-no num aprazível passeio de BTT.
Energias gastas, energias a repor. Logo após as fotos de grupo e o banhinho tomado no Parque Urbano, foi ver os Moukistas a correrem, desta feita, para casa dos pais Lopes, para devorarem os frangos, o arroz, a sopa e tudo o mais que fosse posto na mesa. Saltavam também as caricas das minis, pois também era necessário restabelecer os níveis dos líquidos do corpo.
Espero que a história do menino continue a inspirar muita gente por esse mundo fora e que cada um perceba que tem sempre algo para partilhar com o seu próximo, nem que seja uma simples volta de bicicleta.
Moukista PL


2 comentários:

Moukista PL disse...

Obrigada a todos os que me ajudaram a tornar este evento uma realidade...

Anónimo disse...

Bom dia Camaradas do pedal.
A coisa foi dura mas gostava de repetir e o menino pode continuar a sonhar e a dar vida aos seus sonhos.
JP