Fizemo-lo
em bicicleta TT e fomos oito bicigrinos, (Luís Pina, Henrique Ramos, Manuel Sousa,
Alfredo Guerra, Paulo Laranjeira, Fernando Barreiro, José Gonçalves e Ruben
Fernandes) que iniciamos e concluímos esta aventura que alguns de NÓS
ambicionava fazer algum tempo. A crença, a fé, ou mesmo mais qualquer outra
coisa, encaminhou-nos e deu-nos energia suficiente para querermos trilhar este
caminho cheio de variadíssimos obstáculos, mas de compensações reconfortantes carregadas
de firmezas positivas. A emoção e envolvência que cada um foi ganhando durante
o percurso são inexplicáveis, só mesmo quem se deixa levar por este exercício
de desapego e envolvência, sente e vive o reconfortante bem-estar de alma… A
minha motivação principal em fazer esta peregrinação foi religiosa, mas,
secundariamente muitos mais fluxos contribuíram e serviram de amadurecimento há
minha decisão. Esta rota “O Caminho Português de Santiago” é milenar, trilhada
por dezenas, centenas e milhares de peregrinos desde o início do seculo IX,
após a descoberta do sepulcro do Apóstolo Tiago Maior.
1ºdia 23abril2016, Eram 04:15 quando abri a porta de casa e saí para esta
aventura. Cinco minutos depois, juntei-me ao grupo dos Moukistas peregrinos, a concentração
fez-se em Agualva. Após arrumarmos, nas viaturas, as bikes e os pertences de
cada um Iniciamos a viagem até à cidade do Porto, com a tranquilidade necessária
chegamos à invicta… Depois de tomarmos o pequeno-almoço, iniciamos os
preparativos da pedalação para a nossa primeira etapa de peregrinação, já
equipados…recebemos o primeiro carimbo, na credencial, na Sé do Porto… Às 09:10,
este imponente monumento testemunhou a partida da nossa aventura peregrina.
Apreensivos e cheios de ansiedade em começar a pedalar, desejamos “bom
caminho”, os oito Moukistas iniciavam a mobilidade ciclística pelas ruas do
Porto, logo depois deste momento a tensão de cada um ia-se dissipando à medida
que avançávamos pelo caminho santo… As ruas e ruelas da cidade serviram de
passadeira durante alguns quilómetros, o suficiente para cruzamos a Circunvalação
e seguirmos para Monte dos Burgos deixamos o Porto para trás! Daí até São Pedro
de Rates foi um tiraço! Os ânimos de cada um foram acalmando à medida que íamos
avançando pelo caminho… às 10:50 fazíamos a primeira paragem em Vairão
(Mosteiro de S. Bento), serviu para hidratação, alguma conversa e troca de
primeiras impressões do que íamos sentindo nesta primeira etapa. A próxima
etapa era alcançarmos e almoçarmos em Barcelinhos, eram 12:45 quando o pelotão
terminou esta etapa, tudo corria de feição até aqui. Fomos muito bem recebidos pelos
proprietários do restaurante, que nos serviu um elaborado almoço, até tivemos
direito a licor de tangerina, recomendo! Às 14:30 fizemo-nos ao caminho,
arrancamos, atravessamos o rio Cávado e, estávamos em Barcelos a cidade estava
toda engalanada e apinhada de gente foliona, recolhemos um carimbo no Templo do
Senhor Bom Jesus da Cruz. A concentração que vamos mantendo em todo o percurso
consome-nos boa parte das energias que podíamos ter disponíveis para outra
vertente de mais descontração e vivencias…a terceira etapa de Barcelinhos a
Cambado é espetacular e de grau de dificuldade acentuada, fomo-nos cruzando, no
mesmo sentido, com muitos peregrinos, desejávamos BOM CAMINHO e continuávamos
na viva pedalada, às 16:20 chegamos a Cambado, depois de alguma hidratação
partíamos para a ultima etapa do dia, eram 16:30, talvez por isso! o grupo estava
frenético no andamento que imprimia, que bárbaros…comíamos kms com uma
facilidade tremenda, não existia nada nem ninguém que nos para-se. Desembocamos
no rio Lima, foi por aqui que o frenesim terminou com umas fotos junto ao
aprazível leito do rio. Apenas faltavam uns quantos metros para darmos por
terminada esta ultima etapa do primeiro dia eram 17:50. Chegamos bem e sem
qualquer contratempo, quer físico ou mecânico. Após check-in…veio o primeiro
contacto com a pousada da juventude onde iriamos pernoitar, ainda fizemos a
limpeza e lubrificação das bikes, recolhemos os pertences necessários, subimos
para tomar a merecida banhoca, arrumo-nos e saímos para reconhecimento da
cidade e escolha do restaurante para a janta do grupo, o inicio da noite passou
rápido, os pratos da região fizeram parte do nosso menu e, largos minutos
depois estávamos nas camaratas para o merecido descanso. A pousada estava apenhada
de peregrinos, não foi uma noite pacífica!
3ºdia, 25abril2016, Às
05:00 (06:00 espanhola) já havia malta a iniciar o dia com um despertar
energético. Aperaltados e cheios de vontade fomos tomar o pequeno-almoço. Era
notória a grande vontade para o último dia de peregrinação. A saída de
PonteVedra aconteceu às 07:30, não se previa um dia fácil, os 65 Km de
distância até Compostela têm o seu grau de dificuldade, havia muito sobe e
desce. A primeira etapa contemplava 20 km de distância até Caldas de Rei onde
se deu a paragem prevista, foi uma manhã de algum frio, bastava olhar para os
agasalhos dos betetistas, roupas bem quentes faziam parte da vestimenta…Às 09:15
fora comprida a primeira etapa, fizemos alguma hidratação e continuamos, Padrón
foi alcançado às 11:50, hidratamos e resolvemos a avaria do espigão, a
satisfação do Rubem estava estampada no rosto. Era suposto termos almoçado por
aqui, vá-se lá saber o porque não o fizemos, fomos faze-lo já a Compostela. O
calor começava a fazer-se sentir, o ritmo tivera que baixar ligeiramente mas, o
caminho continuava a correr-nos de feição e com um andamento bem positivo. É
intuitiva a aproximação a Santiago e, mais uma vez as lagrimas quiseram
soltar-se, desta vez conseguiram…recompus-me, pedalei até a emoção passar, já tudo
fazia parte do passado, faltavam poucos Kms, começava a avistar-se a catedral a
ouvirem-se os sinos! Depois de uma ou duas subidas em alcatrão alcançamos
Santiago de Compostela. Disciplinadamente, o grupo dos oito Moukistas pedalava
pelas ruas muito movimentadas, descontraidamente e com um à-vontade de
conquista que causava inveja a muitos rostos. Olhos postos na praça principal.
Chegamos. A emoção não apareceu, fiquei sem saber porque? Talvez exista uma
razão! Como não sou de desistir à primeira…vou-me cultivar e, talvez um dia
encontre o porquê. Numa praça com tanta gente, surpreendentemente sobressaiam
dois estandartes do Clube MoucaBTT, o que é isto será milagre! Não era, eram os
amigos e sócios do MoucaBTT São e Lino, quiseram fazer uma surpresa da praça de
Santiago de Compostela ao grupo dos oito Moukistas, que pela primeira vez,
iniciaram na cidade do Porto e concluíram em Santiago de Compostela “O caminho
Português de Santiago”.
Agradeço
o empenho a camaradagem e entreajuda de todos os elementos do grupo, apreço
para a São e para o Lino. Desculpam-me os restantes, mas tenho que reforçar o
agradecimento ao Presidente Luís Pina, não só por ter sido o mentor, mas, e
principalmente pela grande disponibilidade e trabalho em organizar
exemplarmente todas as vertentes do nosso bem-sucedido passeio “O Caminho Português de Santiago” Muito obrigado.
Abraço do “Moukista sentado”
“Mesmo amarrado à bicicleta sempre senti a
sensação de liberdade”


