Crónica
II Caminhos de Santiago MoucaBTT
Aos
29 dias do mês de Abril do corrente ano, 9 Moukistas rumaram à Sé da cidade
Invicta, para darem início aos II Caminhos de Santiago MoucaBTT.
Esta
crónica pretende retratar o caminho percorrido e as emoções por sentidas, ainda
que este vosso Moukista tenha a certeza que não vos conseguirá retratar na
totalidade e assim fazer juz ao que também ele sentiu… Paisagens deslumbrantes,
gentes hospitaleiras, amizade, diversão, espírito de superação e coesão,
sentimentos que tornaram estes dias uma experiência inolvidável e certamente a
repetir!
1º
Dia: Porto (Sé) – Ponte de Lima
Pelas
8h, os 9 Moukistas reuniram-se na Sé do Porto para a primeira etapa dos II
Caminhos de Santiago MoucaBTT. 3 dias de pedalação e aproximadamente 250 kms
separavam estes bicigrinos do objectivo proposto.
Após
os preparativos iniciais (preparação das bicicletas e logística de apoio),
sentia-se uma “ansiedade” gerada pela expectativa já transmitida por outros Moukistas
que realizaram estes caminhos em 2016, assim como alguns que neste grupo os iam
realizar pela 2ª vez. Era agora tempo para contactar com inúmeros clubes de BTT
que se propunham a pedalar para o mesmo objectivo. Após a tradicional bênção
dos bicigrinos e desejo de Bom Caminho, iniciava-se a pedalação para sair do
centro do Porto e rumar em direcção à Maia. Até lá, este Moukista teve
oportunidade de ir servindo de guia, pois a sua terra Natal encontrava-se à
vista…

Após
a passagem da Maia, estando agora com 17kms percorridos e a entrar-se em Vila
do Conde, primeira e única paragem técnica, com um furo na bike do Pires.
Rapidamente resolvido, o grupo rumou junto a campos agrícolas até ao primeiro
abastecimento do dia, no Mosteiro de São Salvador de Vairão em Vila do Conde.
Deu ainda tempo para a primeira selfie do dia (na ponte romana dobre o Rio Ave)
com um grupo de ciclistas franceses, também eles bicigrinos e que voltaram a
aparecer na crónica lá mais para o seu final.
Após
um breve aconchego e o primeiro de muitos carimbos nas nossas credenciais, o
grupo ia agora, a gradualmente embrenhando-se cada vez mais em trilhos e
povoações de grande beleza. Após passagem por São Pedro de Rates e a sua bela
igreja, a qual foi contemplada pelos bicigrinos aquando da paragem para
carimbo, já o grupo “cheirava” Barcelinhos, local onde se deu a paragem para o
almoço, com um licor de café que alguns elementos referiram como “potência
adicional” para a pedalação que estava reservada para o período da tarde.
Agora,
já nas belas paisagens típicas do Minho foi tempo de pedalar pelas localidades
de Vila Boa em direcção a Tamel (São Pedro Fins) onde se encontrava a subida
até aos 198 mts de cota, em Tamel de São Fins. Daqui em diante, o grupo
encontrava-se na porção final do caminho em direcção a Ponte de Lima, faltando
apenas vencer a ultima subida do dia à cota dos 180 mts.
Após
passagem por Aborim, Balugães e Vitorino de Piães a bom ritmo, fruto da elevada
motivação do grupo e também de alguma “motivação externa”, já a Vila de Ponte
de Lima se encontrava à vista, sendo agora tempo de rumar ao Posto da GNR,
local onde fomos acolhidos de forma hospitaleira pelos seus agentes,
aproveitando depois para desfrutarmos do típico sumo de cevada e malte e por
fim cuidar das nossas bikes para o dia seguinte.
Percorridos
91 kms, com um acumulado positivo aproximado de 1285 mts era agora tempo de
repousar e desfrutar da boa gastronomia local e retemperar forças.
2º
Dia: Ponte de Lima – Pontevedra
O
dia amanheceu escuro e frio, fruto das muitas nuvens, as quais prometiam chuva,
tendo mesmo caído com rigor durante a noite. Ainda assim, munidos dos
respectivos impermeáveis, o grupo estava com a moral em alta, estando
programados 92,5 kms de pedalação e cerca de 1500 mts de acumulado positivo.
Alguns Moukistas diziam agora aos restantes, que as partes mais bonitas do
Caminho Português de Santiago estavam agora a momentos de serem percorridas.
Após
a despedida dos agentes do Posto da GNR de Ponte de Lima, e já munidos das
nossas “binas”, atravessou-se a ponte da Vila de Ponte de Lima em direcção a
Arcozelo.

Aqui,
foi tempo para primeira de muitas selfies do dia, antes de se iniciar a subida
de Serra da Labruja, primeira dificuldade do dia. A entrada na Serra da Labruja
vai inicialmente cruzando trilhos por entre vinhas e arvoredo até se começar a
subir para algumas das suas povoações. À passagem de todos os peregrinos que
percorrem estes caminhos, fomos sendo reconfortados por palavras de incentivo e
acolhimento as quais nos faziam sentir ainda melhor ou não estivéssemos já nós
rendidos à beleza dos trilhos e paisagens circundantes. Após carregarmos ao
colo ou às costas as nossas bikes, eis que estávamos na Cruz dos Franceses,
momento este para uma selfie e “dois dedos” de salutar conversa com outros
bicigrinos, retomando-se o caminho até ao topo desta serra (cota dos 410 mts)
onde se recordou também fotograficamente este momento. Neste momento, já com 15
kms em subida contínua, o frio era algo que já não nos assistia.
Descemos
a Serra da Labruja em direcção a Romarigães e Agualonga, numa descida técnica e
de grande beleza, bem ao gosto do grupo. Era agora tempo para o primeiro
abastecimento do dia junto a Rubiães. Retomamos o nosso caminho e o sentido
ascendente do mesmo até à localidade de São Bento em Paredes de Coura (cota dos
275 mts), sendo agora tempo de rolar por Fontoura, Pedreira, Conguedo até
entrarmos em Valença e no seu símbolo, a sua Fortaleza. Tempo para a última
foto em Portugal a qual foi rapidamente interrompida pelos primeiros pingos de
chuva que para os lados de Valença eram por sinal, bem grossos. Face a isto, os
Moukistas rumaram de forma “decidida” ao almoço, percorridos estavam cerca de
40 kms.
Após
um bom almoço, era agora tempo de rumar a Espanha, passando pela ponte de
Valença, vislumbrando-se Tuy e a sua Catedral de Santa Maria de Tuy do ano de
1180, condignamente conservada. Saímos de Tuy junto ao rio Minho e rolamos até
entrar novamente em bosques que nos conduziriam até à zona industrial ou
polígono como dizem os “nuestros hermanos”, numa recta praticamente a perder de
vista e que nos levaria até O Porrino. Aqui, após um breve reabastecimento,
iniciaram-se 20 kms com duas subidas com cotas de 226 e 170 mts em Vilar de
Enfesta e Eido dos Mouros respectivamente. Durante uma das ascensões deste
percurso de serra, e apesar do grupo estar a “fugir à chuva”, houve ainda tempo
para um breve mas intenso período de granizo o qual fez com que os Moukistas
tivessem de procurar abrigo na vegetação por momentos.
Penso
que será importante referir que nesta tirada, as paisagens foram de grande
beleza, fosse pela serra em si, mas também pelas vistas sobre a baía de Vigo.
Ultima
paragem do dia após a passagem em Redondela, iniciando-se os últimos 20 kms do
dia, faltando contudo, ainda uma subida à cota dois 160 mts, a qual teve início
após Cruceiro de Souto. Aqui estávamos novamente em serra, numa ascenção
técnica face às grandes pedras que constituem o caminho mas que não foi nada
que impedisse o grupo de a realizar montado a sua quase totalidade. Tempo de
descer por calçada romana até Bergunde e posteriormente rolar pela estrada
nacional até se atingir Pontevedra, perfazendo-se assim neste segundo dia cerca
de 93 kms, com um acumulado positivo de 1500 mts aproximadamente. Era agora tempo
de todo o grupo disfrutar do merecido descanso. Pelas 19h, tempo para uma
caminhada por Pontevedra e repasto com umas tapas (sugestão do Moukista
António) no centro histórico da referida cidade, centro esse que não foge ao
que vinha já sendo costume nestes Caminhos de Santiago, de grande beleza!
Regresso ao hostel e após um “petisco”, um incremento de proteína digamos, os
Moukistas rumaram ao travesseiro já com um sentimento de saudade antecipada
pois Santiago já estava perto…
3º
Dia: Pontevedra – Santiago de Compostela
Para
este terceiro e ultimo dia dos Caminhos de Santiago estavam programados cerca
de 68 kms de pedalação com um acumulado positivo a rondar os 900 mts. Após
arrumar as malas e bagagens os Moukistas tiveram o primeiro contacto com o amanhecer
que se apresentava nublado e frio, com temperaturas de 1º C a fazerem-se sentir
nas primeiras pedaladas, rumo ao centro de Pontevedra, seguindo depois para
trilhos por entre bosques, onde a coloração verde emergia por entre a neblina,
dando energia aos Moukistas que se deleitavam com os mesmos. Após uma paragem
em Valbón para um “café solo” aos 12kms e respectivo carimbo, era agora tempo
de entrar em trilhos que alternaram entre estradão e singletrack, junto e por
vinhas, tendo neste momento se dado a segunda paragem técnica dos três dias… a
bicicleta do Pires queixava-se com um raio partido. Rapidamente resolvido, era
tempo de ir até ao primeiro abastecimento em Caldas de Reis, tendo antes
passado pelo mercado de rua, onde os transeuntes saudavam os bicigrinos e lhes
desejavam Buen Camino. Após um breve abastecimento o grupo apercebeu-se do bom
ritmo que levava, tendo aproveitado partes do percurso que ligava Caldas de
Reis a Padrón para a interacção com peregrinos, muitos deles portugueses e na
voz do Moukista António e deste vosso escriba convidar os mesmos a consultar o
facebook da MoucaBTT e fazer like claro, ao que os mesmos respondiam de forma
positiva!
À
passagem por O Cruceiro, iniciava-se a ascensão até ao ponto mais alto da
manhã, à cota de 170 mts. Aqui, agentes da Guardia Civil convidavam os
peregrinos a parar para carimbarem a credencial! De facto, os Caminhos de
Santiago fazem parte das populações por onde estes passam e é salutar observar
que todos se envolvem para que a experiência se torne inesquecível.
Também
os trilhos que agora se seguiam, foram inesquecíveis, uma montanha russa e um
serpentear que desaguaram em Pontecesures, povoação que antecedia a paragem
para almoço em Padrón. Chegados a Padrón, tempo para um sumo de cevada e malte
e ainda o reencontro do Pires com um seu colega de longa data, mostrando que
para a MoucaBTT tudo é possível, mesmo internacionalmente! Cumprimentos
trocados era hora do almoço, pois para a tarde estava prevista a maior subida
do dia, subida essa que conduziria a Santiago.
Após
o repasto, o grupo apontou baterias para Santiago e iniciou a pedalação por
trilhos semelhantes aos da manhã, isto é, de grande beleza, subindo até à
povoação de A Rocha Vella para depois descer por pontes e calçadas romanas e
enfrentar a subida até à cota dos 260 mts, já dentro de Santiago de Compostela,
restando agora rumar à Catedral e nesse espaço se firmar a amizade, o convívio,
a diversão e prazer que os Caminhos de Santiago deram ao grupo, mas também o
espaço para a reflexão, o autoconhecimento individual e a superação e
perseverança necessárias para realizar esta peregrinação que foi épica a julgar
pelos sorrisos e comentários dos 9 Moukistas! Tirada a selfie da praxe, eis que
surgem os nossos amigos franceses que connosco tiraram a foto de grupo em Vila
do Conde. Também aqui houve espaço para troca de emoções e felicitações entre
ambos os grupos.

Era
tempo de entregar as credenciais de Peregrino e aguardar o respectivo
certificado a estes 9 bicigrinos, restando agora tempo para melhor conhecer a
Catedral de Santiago e os seus espaços circundantes.
Terminada esta aventura/peregrinação, iniciou-se o rumo a Portugal para estes 9
Moukistas, de coração cheio e orgulho no desporto que praticam, desporto esse
que gera sensações individuais inigualáveis mas que quando potenciadas num
contexto de grupo atingem patamares únicos!
Por
fim, este vosso Moukista pensa ser importante destacar a excelente marcação de
todo o percurso, possibilitando esta experiência a qualquer pessoa que assim a
queira desfrutar, mesmo sem recurso a GPS.
Resta
agradecer o envolvimento de todos os que, directa ou indirectamente tornaram possível
estes II Caminhos de Santiago.